“As dificuldades são imensas. Nós estávamos fazendo o trecho de Rio Branco a Cruzeiro do Sul de 8 a 12 horas com as carretas. Hoje está sendo de 24 a 36 horas, então, isso tem um custo gigante para todo o comércio”.
A fala de Jairo Bandeira, presidente da Associação Comercial de Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, ilustra um dilema antigo do Acre: um estado marcado pelo isolamento geográfico e que depende quase totalmente do transporte rodoviário para garantir o abastecimento de combustíveis, medicamentos e alimentos.
Em meio às dificuldades e diversos acidentes, protestos e debates foram feitos ao longo deste ano, desde caravanas a Cruzeiro do Sul, até audiências públicas para discutir a revitalização da BR-364, que está em péssimas condições de conservação.
No último dia 8 de agosto, no entanto, a situação aparenta se encaminhar para sua resolução. É que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou o investimento de mais de R$ 800 milhões para recuperação da rodovia que corta o estado.
A BR-364 no Acre liga municípios importantes como Rio Branco, Bujari, Sena Madureira, Manoel Urbano, Feijó, Tarauacá, Rodrigues Alves, Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul.
Ao todo, a rodovia abrange mais de 634 mil pessoas, o equivalente a mais de 70% da população do estado.
Cada metro recuperado das estradas representa mais do que obra de infraestrutura: é a garantia de acesso a bens básicos e a chance de desenvolver a economia.
Ao todo, a rodovia abrange mais de 634 mil pessoas, o equivalente a mais de 70% da população do estado.
Cada metro recuperado das estradas representa mais do que obra de infraestrutura: é a garantia de acesso a bens básicos e a chance de desenvolver a economia.
Problemas frequentes e antigos
O Acre possui duas rodovias federais estratégicas:
- BR-364, que corta o estado de leste a oeste e garante o abastecimento da região do Juruá, onde vivem mais de 300 mil pessoas;
- BR-317, que conecta Rio Branco à fronteira com o Peru, em Assis Brasil, e abre caminho para a chamada “rota do Pacífico”.
Historicamente, os trechos dessas estradas sofrem com os impactos das chuvas amazônicas, que transformam a pista em lamaçal durante o inverno.
Em 2016, por exemplo, o problema já era evidente com tráfego interrompido. Naquela época, o Dnit já previa o custo de mais de R$ 1 bilhão para a restauração da rodovia. Desde então, a BR-364 passa por projeto de restauração. Contudo, o problema não era resolvido.
“A situação ainda está precária, a buraqueira é terrível, questão de horário atrasa muito, passageiros reclamam e está um caos, na verdade. Ônibus quebra, mola quebra, aí a gente acaba prejudicando as viagens do passageiro, né?,” disse o motorista Wheneson Dias, que trabalha com ônibus que fazem as linhas intermunicipais.

Em 2023, a superintendência regional do Dnit declarou situação de emergência em alguns trechos do km 620 ao km 682 entre o Rio Gregório e o Rio Liberdade, que ficam entre as cidades de Tarauacá e Cruzeiro do Sul.
Desde a publicação do decreto de emergência, esses trechos críticos passaram por serviços paliativos, com os buracos sendo tapados com pedras e pó de pedra para garantir a circulação dos veículos na estrada.
Os trechos que não estavam inseridos no decreto de emergência também passaram por manutenção com serviços convencionais com asfalto.
Impactos por terra e por ar
Todas estas problemáticas influenciam no deslocamento até a segunda maior cidade do Acre. As más condições da estrada maltratam quem precisa dela para se locomover.
A viagem que durava entre 8 a 12 horas de ônibus, pode chegar a ultrapassar 20 horas de duração e, dependendo da época, até 24 horas.
Já de avião, as passagens, se compradas entre o final de agosto e início de setembro, podem chegar a mais de R$ 5 mil.
Em fevereiro de 2023, os prefeitos de cinco municípios interligados pela BR-364 assinaram um documento que pede a recuperação da rodovia e alerta para o impacto econômico na região.
Manutenções
Com os investimentos anunciados por Lula na última semana, as obras irão acontecer nos lotes 1, 2, 7 e 8 da rodovia. Ao todo, serão mais de 318 km de estrada. O governo federal vai investir cerca de R$ 870,9 milhões nesse projeto. As obras vão acontecer em dois trechos principais da rodovia.
Lotes 1 e 2 – Esse trecho vai da divisa do Acre com Rondônia, passa por Rio Branco e chega até Bujari.
- São 156,4 km no total.
- Consórcio MSM/CSM V será responsável pelas obras.
- Lote 1 tem 98,6 km e vai custar R$ 196,2 milhões.
- Lote 2 tem 57,8 km e o valor é de R$ 170,9 milhões.
Lotes 7 e 8 – Ficam no Vale do Juruá, entre Feijó e Rio Gregório.
- A empresa LCM Construção e Comércio vai cuidar dessa parte.
- Lote 7 terá 69,9 km recuperados, com investimento de R$ 264,6 milhões.
- Lote 8 cobre mais 60,4 km e vai custar R$ 239 milhões.
Durante a solenidade foi assinada a ordem de serviço que autoriza o começo das manutenções. As obras na BR-364 são importantes para ajudar no transporte da produção local, melhorar a mobilidade das pessoas e fortalecer a ligação do Acre com outros estados.
A expectativa é que os investimentos dos próximos anos consolidem o Acre como parte fundamental da integração entre Amazônia e mercados internacionais.
Projetos de duplicação de trechos e a construção da 6ª ponte sobre o Rio Acre, em Rio Branco, fazem parte dessa estratégia.
“Sabemos o que significa pro estado ter uma estrada ruim. Estamos aqui para dizer ao povo acreano que depois de [fazer] obras sem respeitar as técnicas, porque o dinheiro não dava, faremos uma estrada que suporte o inverno amazônico”, disse Renan Filho, ministro dos Transportes, em evento no Acre.