
Cruzeiro do Sul (AC) — Nos últimos anos, a cidade de Cruzeiro do Sul, a segunda maior do Acre, tem enfrentado um desafio crescente: o aumento significativo da população em situação de rua. As praças, calçadas e áreas públicas passaram a ser ocupadas por pessoas sem moradia fixa, muitas delas em condições de extrema vulnerabilidade social.
Esse fenômeno, no entanto, não é isolado. A localização estratégica de Cruzeiro do Sul — próxima à tríplice fronteira com Peru e Bolívia — a coloca em uma rota sensível ao tráfico de drogas e à migração desordenada. A facilidade de entrada de substâncias ilícitas e o comércio informal de entorpecentes contribuem para o avanço da dependência química entre a população local e também entre pessoas migrantes que chegam à cidade sem rede de apoio.
“A fronteira porosa, aliada à ausência de políticas públicas consistentes de acolhimento e tratamento, transforma a cidade em uma espécie de zona de exclusão para essas pessoas. Sem emprego, sem moradia e com acesso facilitado a drogas, muitos acabam presos em um ciclo de miséria, violência e abandono”, analisa uma assistente social que atua em programas emergenciais no município.
Outro fator alarmante é o aumento de casos de saúde mental e doenças infecciosas entre a população de rua. A Secretaria de Saúde do município reconhece a sobrecarga nos atendimentos e a dificuldade de fazer o acompanhamento adequado dessas pessoas, muitas das quais não possuem documentos ou resistem ao acolhimento institucional.
Frente a esse cenário, especialistas defendem a urgência de um plano de ação integrado, que envolva não apenas a prefeitura e os órgãos de assistência social, mas também políticas estaduais e federais voltadas para o enfrentamento da vulnerabilidade nas cidades de fronteira.
Cruzeiro do Sul, com sua beleza natural e papel estratégico na região do Vale do Juruá, precisa ser resgatada do abandono social. O aumento da população de rua é um sintoma claro de que há feridas abertas na estrutura urbana e humana do município — e que elas não podem mais ser ignoradas.