Fala racista de noiva que rejeitou cerimonialista negra gerou rompimento de contrato e cobrança de multa; entenda

Celebrante cancelou contrato com a noiva e a denunciou à polícia após ela dizer que preferia “time de pessoas brancas” para casamento em Piracicaba (SP). Noiva cobra multa na Justiça. Soraia é assessora de eventos e cerimonialista
Reprodução/ EPTV
A fala racista de uma noiva que rejeitou uma cerimonialista negra para seu casamento, em Piracicaba (SP), levou a celebrante da festa a romper o contrato e registrar um boletim de ocorrência. Já a noiva acionou a Justiça para cobrar dela o pagamento de multa pelo rompimento do acordo.
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Há cerca de dois meses, enquanto atendia a noiva, a celebrante Aline Ferreira, de 39 anos, indicou a ela a assessora de eventos e cerimonialista negra Soraia Martins para o trabalho.
Porém, foi surpreendida pela resposta recebida em um aplicativo de mensagens: “Estamos preferindo um time de pessoas brancas”, disse a noiva. Veja como foi o diálogo abaixo:
Mensagem racista após indicação de cerimonialista negra para noiva
Reprodução/ EPTV
Rompimento e denúncia à polícia
Diante da fala, Aline optou por cancelar o contrato de prestação de serviço, no qual faria o discurso do casamento, justificando que se tratou de um caso de racismo. Além disso, registrou boletim de ocorrência.
“Deixei claro meu posicionamento, que não iria fazer esse trabalho com ela por conta disso [fala racista]. Avisei minha advogada, que está em contato com a noiva, porque eu não quero pagar multa por cancelar um contrato com uma criminosa. Eu me recuso”, afirma Aline Ferreira.
Cerimonialista negra de Piracicaba denuncia racismo de noiva
Cobrança de multa na Justiça
De acordo com a celebrante, a noiva está cobrando o valor de R$ 4,5 mil na Justiça por causa do rompimento. A quantidade considera o valor do contrato e uma multa de 10% do montante.
“Eu sei que não é um fato isolado e foi triste, não por cancelar o contrato, mas por imaginar que meus filhos e meu marido passam por isso”, afirma Aline.
“É inconcebível da minha parte continuar com esse trabalho. Como vou celebrar o amor de duas pessoas que são coniventes com tanto ódio? Então, para além de procurar outro celebrante, ela vai responder criminalmente por isso”, acrescenta.
Soraia destaca a permanência do racismo estrutural no Brasil
Reprodução/ EPTV
‘Sentimento de exclusão’
Soraia soube que foi vítima de racismo mais tarde. Durante um encontro de fornecedores, em outubro deste ano, comentou com Aline sobre a falta de profissionais pretos naquele ambiente em que as duas estavam. Na ocasião, Aline falou com Soraia sobre a conversa com a noiva.
“Como já tinha passado, fiquei pensativa. Falei nada. Mas, depois, isso passou a me incomodar e comecei a conversar com outros profissionais pretos, como cerimonialistas e fotógrafos, que confirmaram o sentimento de exclusão desse ramo de trabalho”, contou Soraia.
Mesmo com a repercussão do caso, a cerimonialista não sabe quem é a noiva que disse preferir “um time de pessoas brancas”. Isso porque Aline não compartilha dados pessoais de clientes. Por isso, a cerimonialista não denunciou o caso à polícia ou acionou a Justiça, mas diz se contentar pela atuação da colega de trabalho.
O g1 não conseguiu localizar a noiva até a última atualização desta reportagem.
Veja a reportagem completa do segundo episódio da série Consciência Negra
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