O baixo volume de chuvas registrado em julho já começa a impactar diretamente a navegabilidade no Rio Juruá, que banha Cruzeiro do Sul e outros municípios do interior do Acre. Na manhã desta terça-feira (29), o nível do rio chegou a 4,04 metros, segundo medição do Corpo de Bombeiros, marcando uma redução de 4 centímetros em relação ao dia anterior.
De acordo com o comandante da corporação, major Josadac Cavalcante, o nível atual é 73 centímetros menor que o registrado na mesma data em 2024, quando o rio marcava 4,77 metros. “Para termos uma ideia, ano passado, no auge do verão, ele atingiu 4,54 metros, ou seja, mais de 40 centímetros acima do que temos hoje. Isso demonstra um cenário de seca mais severa neste ano”, alertou.
A situação preocupa comerciantes e consumidores em Porto Walter, já que a principal via de abastecimento de combustível e gás é o próprio rio. Com o nível baixo, a logística fica comprometida: embarcações transportam menor quantidade e enfrentam mais dificuldades de navegação, elevando os custos.
Segundo Zidane Demétrio Silva, gerente do Pontão Horizonte, o efeito é direto no bolso da população:
“Se no inverno conseguimos trazer 200 botijões de gás, agora conseguimos apenas 50 ou 70. Isso faz o preço subir de 10% a 15%. Com a gasolina é a mesma coisa: a dificuldade de transporte aumenta o custo e quem paga a conta é o consumidor”, destacou.
Além da seca, outro fator agrava a situação: a ausência de uma ligação rodoviária com Cruzeiro do Sul. A estrada de 84 km entre os dois municípios está embargada judicialmente desde 2023por falta de licenciamento ambiental e ausência de consulta às comunidades indígenas da Terra Indígena Jaminawá do Igarapé Preto. No início de 2025, uma decisão arquivou os processos que impediam a obra e determinou o reinício do projeto, agora sob responsabilidade do Imac, com novos estudos e consultas. No entanto, não há prazo para conclusão.
Durante as comemorações do aniversário de Porto Walter, em junho deste ano o presidente da Câmara Municipal, vereador Rosildo Cassiano, fez um apelo de joelhos em público pela liberação da via.
“Se tivéssemos estrada, poderíamos receber combustível e gás com mais facilidade e a preços menores. É urgente resolver essa questão”, afirmou.
Enquanto a estrada não sai do papel, a população segue refém da seca do Rio Juruá, enfrentando combustíveis e gás cada vez mais caros e imprevisíveis.