Mulheres brasileiras transformam o cacau em renda, identidade e protagonismo social com a produção de chocolate artesanal

Enquanto o mercado de chocolates premium cresce no Brasil, um grupo específico tem se destacado nesse novo cenário: mulheres empreendedoras que produzem chocolate artesanal com cacau nacional, em pequenas propriedades ou cooperativas, com forte impacto social em suas comunidades.
De norte a sul do país, elas estão transformando a produção do cacau em histórias de superação e protagonismo. São agricultoras, indígenas, chefes de família e líderes comunitárias que usam o chocolate não apenas como fonte de renda, mas como instrumento de resistência cultural e econômica.
Na Bahia, por exemplo, Maria das Dores, a “Dona Dôra”, começou a fazer bombons caseiros com cacau da sua roça, em Ilhéus. Hoje, a marca Chocolates do Cacauzeiro, que ela fundou com as filhas, vende para lojas de São Paulo e até exporta. “Nosso chocolate é puro, sem conservantes, e com sabor da terra. Isso conquistou as pessoas”, diz Dona Dôra.
Na Amazônia, a Cooperativa de Mulheres Agroextrativistas de Medicilândia (PA) virou referência nacional ao produzir chocolate de origem com cacau nativo da região. O processo inclui fermentação natural, torra controlada e prensagem manual. Cada barra conta a história da floresta e de quem nela vive.
Mais do que um produto gourmet, o chocolate artesanal dessas mulheres representa um movimento cultural e político. Muitas atuam dentro do modelo bean to bar — do grão à barra — que valoriza a rastreabilidade e o cuidado em cada etapa do processo.
Os desafios ainda são muitos: burocracia para formalização, acesso a crédito e escoamento da produção. Mas, com o fortalecimento de redes solidárias, como a Rede de Mulheres do Cacau, elas vêm ganhando visibilidade e reconhecimento.
Nas embalagens, além do sabor, há identidade: grafismos indígenas, frases de resistência, nomes de mulheres inspiradoras. “É um chocolate que tem alma”, diz a chef e pesquisadora gastronômica Lúcia Souza. “Elas estão moldando um novo mercado, que respeita o meio ambiente, a cultura e o trabalho feminino.”
Como diz Márcia Silva, produtora de chocolate em Medicilândia:
“Quando vi que o chocolate que eu fazia tinha o gosto da minha história, decidi que ele também seria o caminho para a mudança na vida de outras mulheres.”