O Acre tinha 34.394 pessoas morando em unidades de conservação (UCs) em 2022, de acordo com dados do Censo divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nessa sexta-feira (11). Destes, 19,3 mil são homens e 15 mil são mulheres. A maioria – 25 mil – se declara como parda.
Estes resultados fazem parte da pesquisa Censo Demográfico 2022: Unidades de Conservação. É a primeira vez que o IBGE divulga um levantamento com este recorte. O lançamento ocorreu no Anfiteatro Garibaldi Brasil, no campus da Universidade Federal do Acre (Ufac).
O estado possui 11 unidades de conservação federais. Os moradores incluem comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas e até ocupações irregulares. Um deles é o produtor Júlio Barbosa, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), que vive na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes. Para ele, estas informações são cruciais para resolver problemas antigos, como a regularização de ocupações.
“Na [Reserva] Chico Mendes, a gente estima que deve ter mais ou menos 10 mil moradores dentro dela. Desses 10 mil moradores, eu acredito que entre 500 a mil, são pessoas que estão vivendo totalmente ilegal e a gente precisa resolver esse problema. Tanto nós, representando a sociedade civil, como o próprio governo precisa resolver o problema da nossa unidade para que ela volte a se regularizar. Então, esse momento para nós aqui, ele tem uma importância muito grande”, ressaltou.
Falta de saneamento
O levantamento do IBGE também revelou uma realidade preocupante. Pelo menos 40% dos moradores de unidades de conservação no país enfrentam falta de água tratada, esgoto ou coleta de lixo.
No Acre, de acordo com os dados, a maioria dos moradores de UCs coleta água de fontes ou nascentes, rios e poços rasos: são 27,2 mil pessoas nesta categoria.
Em relação ao esgotamento sanitário, o maior número é o de moradores que utilizam fossas rudimentares ou buracos para o descarte: 12,8 mil pessoas. Outro dado preocupante é que 8 mil moradores declararam não terem banheiro ou sanitário.
A expectativa é que os dados ajudem a direcionar políticas públicas mais eficazes.
“Os povos e comunidades tradicionais, os pesquisadores acadêmicos, sempre solicitaram ao IBGE informações sobre a presença de populações nas unidades de conservação e quais seriam as características dessa população. Então, agora realizado o Censo Demográfico 2022, a gente consegue devolver à sociedade esses dados que vão poder servir como evidências para o aperfeiçoamento da política ambiental e da política de ocupação e gestão das unidades de conservação”, frisou Francisco Damasco, gerente de territórios tradicionais e áreas protegidas do IBGE.

Ainda conforme o gestor, o Acre tem papel de destaque neste contexto, já que foi no estado que surgiram as reservas extrativistas, criadas a partir da luta do movimento seringueiro. Elas preservam o meio ambiente ao mesmo tempo em que garantem o modo de vida das comunidades tradicionais.
Para ele, dados deste tipo demoraram a ser divulgados pois só agora as entidades envolvidas chegaram à capacidade necessária para obtê-los.
“Nesses anos, os institutos que produzem os polígonos e os mapeamentos dessas unidades, eles foram aperfeiçoando o seu trabalho. E nós chegamos aqui hoje, 25 anos depois da criação desse sistema, com dados muito mais detalhados sobre os limites dessas unidades. Então, isso permitiu que o IBGE tanto preparasse uma operação de levantamento de dados específica para essas áreas, como também permitiu que a gente tivesse condição de detalhar os dados populacionais”, acrescentou.