Na última sexta-feira (8), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Rio Branco para agenda oficial. Entre apertos de mão, discursos e compromissos institucionais, um tema central para o povo guerreiro de Porto Walter sequer foi mencionado: a estrada que liga o município a Cruzeiro do Sul.
Conhecida como Ramal Barbary, a via está interditada por ordem judicial desde 2023, em razão de questões ambientais e reivindicações das comunidades indígenas da região. De lá para cá, a população enfrenta um cenário cada vez mais crítico. Com a seca prolongada, o transporte fluvial única alternativa se torna limitado, lento e caro. O resultado é um aumento em cascata no custo de vida.
Conversando com moradores, ouvi relatos de que o frete, que antes custava R$ 0,50, hoje pode chegar a R$ 1 ou até R$ 2. A gasolina sobe, o preço do gás dispara, materiais de construção se tornam quase proibitivos. Até mesmo quem precisa viajar de avião paga caro: cerca de R$ 500 a passagem. Para uma cidade já marcada pela distância, esse encarecimento generalizado sufoca a economia local e torna a sobrevivência ainda mais difícil.
O que revolta os moradores não é apenas a interdição da estrada é o silêncio em torno dela. Nenhum representante presente na agenda presidencial ousou cobrar publicamente do presidente uma solução ou ao menos um compromisso concreto. E não se trata de um pedido isolado: a construção ou reabertura dessa ligação terrestre é pauta de décadas, debatida em audiências públicas, reuniões e promessas eleitorais que nunca saíram do papel.
Sim, é possível e necessário conciliar preservação ambiental com o direito de ir e vir e o desenvolvimento econômico. Mas isso exige ação política, vontade de negociar e coragem para enfrentar interesses conflitantes. Até lá, o povo de Porto Walter seguirá pagando mais caro por tudo: pelo arroz no prato, pelo tijolo na obra, pelo combustível no motor e até pelo direito de visitar parentes em outra cidade.
A ausência do tema na visita presidencial não foi apenas uma omissão foi um recado silencioso de que o interior do Acre, mais uma vez, ficou fora do radar das prioridades nacionais.